
Normalmente quando ouvimos a palavra "animação", relacionada a um filme, nosso cérebro automaticamente faz a ligação com filme de criança.
Normalmente nosso cérebro está correto e o que vemos é uma história divertida, com boas lições morais e que, em minha opinião, sempre vale a pena, por trazer leveza e um tanto de fantasia para alegrar o nosso dia.
Normalmente esse tipo de filme, visando alcançar um número maior de pessoas, também contém piadas que as crianças não entendem e conseguem agradar os pequenos pelo encantamento com os desenhos e coisas engraçadas e os maiores com as piadas que, observadas com cuidado, muitas vezes são críticas sociais ou apenas apelam para a sexualidade.
Normalmente esses filmes são para divertir, ensinar algo e deixar os espectadores felizes ao final.
Normalmente.
Mas Mary e Max não é um filme normal.
Sinopse: Mary tem oito anos, vive na Austrália, mora com o pai e com a mãe alcoólatra depressiva. Max tem quarenta e quatro anos, vive em Nova Iorque e sofre de Síndrome de Asperger. Ambos são deslocados, e sentem a necessidade de ter um amigo. Mary resolve escrever uma carta para alguém e escolhe Max, um desconhecido, numa espécie de lista telefônica. Essa primeira carta é o início da amizade, que a princípio seria impossível, entre os dois. Mary escreve a Max falando da sua vida e questionando-o sobre as coisas que ninguém quer explicar a ela e ele encontrou na menina a única pessoa capaz de entendê-lo. E eles prosseguem se correspondendo até a idade adulta de Mary.
A história trata de temas pesados que são complicados até de se contar em filmes com atores. Mas é incrível quanta expressividade é passada por bonecos de massinha (foi todo feito em stop-motion, com ajuda da computação gráfica para finalização).
A narração é um dos seus pontos fortes. Enquanto o narrador conta uma história, nós vemos outra. A ironia deixa tudo mais interessante.
Outro ponto forte são as vozes, por isso aconselho que assistam em inglês.
É um filme que fala sobre os medos e inseguranças humanos e nos faz refletir sobre a sociedade e como agimos e reagimos a ela.
Todas as personagens são muito complexas e tem muita carga emocional. O problema de Max causa angustia e dá vontade de ir lá e dar um abraço nele, mas, se isso fosse possível, ele provavelmente teria uma crise das piores.
Mary começa inocente como a maioria das crianças e é muito divertido acompanhar seu processo de amadurecimento, quase inevitável não lembrar dos nossos próprios questionamentos e descobertas da infância.
A comicidade é muito forte, mas é apenas mais um dos elementos da ironia encontrada em cada fala. O humor serve para encobrir o drama.
E a grande sacada do filme: Mary vê o mundo em tons de marrom e Max o vê em preto e branco. E essa diferença de visual simboliza a diferença das vidas deles e dos mundos deles. Mas em mim criou a expectativa do encontro do marrom com o preto e branco. E não fiquei frustrada.
Não é um filme que traz leveza e fantasia e, definitivamente, não vai alegrar o seu dia. Contanto, traz muitos questionamentos e nos deixa até um pouco frustrados, porém Mary e Max, com toda sua inabilidade em se socializar, terminaram sendo cativantes e nos fazendo torcer por um final feliz, porque é o que normalmente esperamos que acontecesse. E quem dirá que não o é.
Ps.: Quem, ao acabar de assistir, teve vontade de escrever uma carta para um estranho?