
Como sou grande apreciadora do cinema nacional e tenho visto que cada vez mais os brasileiros podem se orgulhar de suas produções não só em qualidade técnica, mas, principalmente, em seus roteiros e atores, decidi falar sobre um filme que tem muito forte esses aspectos: a Máquina.
Assisti a máquina em 2007, por pura sorte, pois só ficou uma semana em cartaz. Uma amiga me passou o filme recetemente, mas ficou esquecido no meu computador, até que essa semana, numa tarde tediosa, resolvi revê-lo. Que bom que o fiz, pois alegrou não só minha tarde, como todo o resto do dia.
Baseado no livro de Adriana Falcão e em peça do próprio diretor, João Falcão, conta a história de Antônio (Gustavo Falcão e Paulo Autran) que se considerava o filho do tempo e nasceu em Nordestina, uma pequena cidade de Pernambuco que, segundo ele mesmo, não conseguia dar conta de sua única finalidade: ser o lugar onde seus habitantes habitavam.
A história é contada por Paulo Autran para alguns internos de um hospital psiquiátrico. Ele começa pelo nascimento de Antônio e pelo porquê dele ser o filho do tempo.
Autran segue narrando a história contando que Antônio é apaixonado por Karina (Mariana Ximenes) porém, quando finalmente consegue ser correspondido, descobre que seu grande amor quer partir de Nordestina e ir para o mundo. Para evitar que ela vá embora, Antônio parte de Nordestina prometendo trazer o mundo para Karina.
Chegando numa cidade grande, Antônio reencontra um dos seus irmãos, conhece o mar e vai a televisão.
Num programa de auditório, promete ao público que vai viajar no tempo e que, caso não cumpra sua promessa, irá morrer atropelado por uma máquina munida de 700 lâminas giratórias. Com essa declaração, o programa bate os recordes de audiência e Antônio volta a Nordestina para cumprí-la.
No dia esperado, a cidade é invadida pela imprensa e pelas pessoas que haviam partido de Nordestina. Antônio prepara a máquina que vai avançar contra ele e Karina implora que ele desista da ideia. Mas ele se mantém firme.
Na praça da cidade, a máquina avança contra Antônio, que viaja 50 anos no tempo e escapa da morte.
Mas quando volta, dá o azar de voltar exatamente no instante em que partiu. Questionado pelos jornalistas sobre sua promessa, conta que viajou no tempo, mas, como não tem provas, é internado como louco e separado de sua Karina.
O Antônio 50 anos mais velho conta aos seus companheiros de internação que descobriu como mudar seu passado: precisa entregar uma prova irrefutável ao Antônio jovem de que viajou ao futuro. Com a ajuda dos loucos, ele consegue fugir do hospital e ir ao encontro do seu eu passado. Quando se encontram, o futuro entrega ao passado uma mala que contém a prova de sua viagem no tempo.
Antônio então volta ao passado, foge da máquina assassina, e quando questionado sobre sua promessa, abre a mala e encontra um bilhete que lhe antecipa alguns fatos, fazendo com que todos acreditassem que ele esteve no futuro e possibilitando a Antônio viver feliz para sempre com sua Karina. Antônio Trouxe o mundo a Karina e Nordestina passa a constar no mapa.
O filme é belíssimo. Por ser uma adaptação de uma peça, é muito teatral, mas de uma forma que prende o espectador. O texto é brilhante, com divagações sobre o amor, sobre o mundo, sobre a terra da gente e especialmente sobre o tempo.
O tempo é um dos protagonistas do filme. Está em todas as cenas, em todas as ações das personagens e tem uma ligação tão íntima com Antônio que torna-se mais uma personagem da trama.
Os atores estão ótimos, mesmo com aquele sotaque nordestino que muitos acusam de falso, mas que, na verdade, é o sotaque do teatro, que exagera para caracterizar a essência das personagens. E funciona. Gustavo Falcão passa toda a emoção de Antônio no olhar e suas palavras soam verdadeiras. Paulo Autran foi o maior ator brasileiro de todos os tempos, e está fantástico entre louco e são, entre contador de histórias e personagem, entre passado e futuro. Mariana Ximenes é inquestionavelmente linda e talentosa, e não é difícil de acreditar que alguém quisesse trazer o mundo pra ela. Além das participações especiais, como Wagner Moura, Lázaro Ramos, Vladimir Brichta e Zéu Brito, que conseguem brilhar mesmo com personagens menores.
Outra característica marcante do filme é a trilha sonora de Robertinho do Recife e Chico Buarque de Holanda (que compôs a até então inédita "porque era ela, porque era eu"), e se encaixa em cada momento tão sutilmente e perfeitamente que emociona em algumas cenas. Além da musicalidade das personagens, destaque para a cena em que a mãe de Karina consola a filha cantando uma cantiga de ninar.
O filme tem uma maneira muito peculiar de contar sua história, e ganha pontos por fazer disso uma coisa tão simples que o especator facilmente se envolve com as personagens. Com frases marcantes e de grande cunho filosófico e emotivo, o texto é a grande sacada do filme.
Um filme doce, sobre amor e sobre o tempo. Coisas que se completam e que funcionam muito bem quando andam juntas.